08/01/2007

O nascimento da minha “bebé de ouro”

Finalmente, e com quase sete meses de atraso, vou contar como foi o nascimento da nossa bebé de ouro – como um dia lhe chamou o meu médico. A gravidez em si foi complicada. Estive de baixa por “gravidez de risco” mais de cinco meses. A causa foi “descolamento da placenta” logo nas primeiras semanas de gravidez. Fui por diversas vezes parar às urgências do hospital. Saia de lá umas horas depois com a informação: “o coração continua a bater, mas precisa de repouso”. E assim foram passando os meses.
Em Maio deste ano, e porque a tensão estava um pouquito alta e a bebé estava com pouco peso, entrei novamente de baixa, e ia às consultas de 15 em 15 dias. Até que a 8 de Junho, na consulta das 36 semanas, o médico marcou o parto para dia 22 desse mês, teria 38 semanas. Estava tudo bem com a bebé e isso via-se na ecografia.
No dia seguinte, levantei-me, tomei o pequeno-almoço e fui para o computador. Ao contrário do habitual, não senti os movimentos da Mafalda. Resolvi comer um bocadito de açúcar, bati (levemente) na barriga e nada. Comecei a ficar preocupada. À hora do almoço, e como ela continuava sem se mexer, resolvi ir às urgências de Hospital de Gaia pois é lá que trabalha o meu médico. Não consegui falar com ele, mas deixei-lhe uma mensagem a dizer o que se passava.
Cheguei ao hospital e fiquei à espera. Como a fome apertava, bebi um iogurte e comi umas bolachitas. Uma enfermeira chamou-me e pôs-me as cintas do CTG. Na mão tinha um pequeno aparelho que teria que tocar cada vez que a bebé se mexesse. Ouvir o coração, ouvia-se, e bem. Mas quanto movimentos, nada. Depois de uma hora com as cintas, fui vista por uma médica que me fez uma ecografia. Aparentemente, a bebé estava bem, e o coração batia. Mas por causa das dúvidas, a médica resolveu chamar uma colega que viu que algo de errado se passava. Os batimentos cardíacos eram muito uniformes, sempre nos 152 bpm, e ela não se mexia. Disseram logo que teria de ficar internada para observações. Foi um choro tremendo. Não tinha preparado nada, nem a minha mala nem a da bebé.
Deram-me uma camisa do hospital e fui para o piso de obstetrícia. Enquanto isso, o meu marido foi a casa para me trazer alguns objectos de toilete e roupa. Às 21h30, e sempre com a cinta da CTG, uma médica vem ter comigo e diz vão fazer uma cesariana, pois a bebé estava a sofrer. Mas avisaram-me logo que a bebé iria para neonatologia porque era prematura. Telefonei para o meu marido e, com a ajuda das minhas irmãs, pedi-lhe para fazer a mala da bebé. Como tinha comido as bolachas e o iogurte, tinham que atrasar a cesariana. Não sei que horas seriam quando finalmente me levaram para o Bloco de Partos. Perguntaram-me se queria anestesia geral ou epidural. Escolhi a epidural. Como sabia que não ia ficar com a bebé, queria vê-la mal nascesse. E assim foi. Para mim foi tudo rápido, não sei quanto tempo demorou, pois houve uma altura em que deixei de ligar às horas. Sei que ela nasceu às 00h31, pois perguntei logo à médica. Também quis saber quanto pesava. Foram as minhas únicas perguntas. Disseram 2 quilos.
Não a vi quando nasceu, apenas quando a levaram para neonatologia, só ouvia o seu choro forte enquanto a limpavam e faziam os testes. E foi ai que chorei.
Quando a vi, embrulhada num pano verde, reparei que era pequenina, mas tinha uns olhos lindos, grandes, arregalados…
Por causa da cesariana, só a consegui ver 36 horas depois. A anestesia fez-me mal e fartei-me de vomitar. Ou era quando me tentava levantar ou era quando falava com alguém ao telefone. Foi a parte mais horrível. Com uma vontade de ver a bebé e não conseguir.

A Mafalda nasceu dia 10 de Junho e, soube depois, com apenas 1,890 quilogramas. Além de prematura, só por ser às 36 semanas, ela era uma bebé de baixo peso. Mas nunca necessitou de respiração assistida e com um dia já bebia do biberão. Não houve necessidade de ser entubada. Se tudo estivesse bem, ela rapidamente iria para casa. Mas não estava. Ao terceiro dia descobriram que ela tinha um sopro cardíaco. Não sabiam de que tipo, nem se fecharia sozinho. Os médicos decidiram que era melhor ela ser vista pelos especialistas de cardiologia pediátrica do Hospital de S. João. E lá foi ela, na incubadora, acompanhada pela enfermeira-chefe e por um médico. Duas horas depois regressaram. As notícias não eram boas nem más. Iriam tentar uma medicação para ver se o sopro fechava. Se não fechasse, teria que ser operada. Não se sabia era quando. Depois de tentarem por duas vez com a medicação, o sopro não fechou. Tinha mesmo que ser operada. Veio para casa dia 28 de Junho – foi a minha prenda de anos, o meu aniversário era a 30. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Finalmente o berço ao lado da cama, e 18 dias depois, iria ser ocupado. A família, avó, tios, primos estavam todos com uma enorme vontade de a ver, pois na neonatologia só os pais e os avós (por uma vez) é que a podiam visitar.

A Mafalda foi operada em Agosto, com apenas 2 meses e meio. Noutro post, que será também longo, contarei o resto da história…